Imagine uma manhã caótica na fábrica: três máquinas apresentam defeitos simultâneos, o chefe de manutenção está de licença, e o gerente de produção exige soluções imediatas. Por onde começar?
É nesse tipo de cenário que a Matriz GUT se torna a bússola de quem precisa priorizar ações sob pressão.
A ideia aqui é ajudar você a descobrir como aplicar essa ferramenta não como um protocolo engessado, mas como um aliado estratégico para tomar decisões ágeis, reduzir custos e evitar desastres operacionais. Acompanhe!
O que é a Matriz GUT?
A Matriz GUT é uma ferramenta de gestão utilizada para auxiliar na priorização de tarefas e problemas. Ela possui critérios e atribui uma pontuação a cada um deles, geralmente em uma escala de 1 a 5, e o resultado final é a soma das pontuações de cada critério. Quanto maior a pontuação final, maior a prioridade daquela tarefa ou problema.
Esse modelo permite que as equipes de manutenção identifiquem de maneira rápida e objetiva quais problemas devem ser resolvidos primeiro, considerando o impacto, a urgência e a tendência de agravamento.
Assim como médicos em um pronto-socorro classificam pacientes por gravidade, a Matriz GUT ajuda equipes de manutenção a identificar quais “feridas” nos ativos exigem sutura imediata e quais podem esperar um curativo provisório. Desenvolvida nos anos 1980, ela surgiu da necessidade de substituir o “achômetro” por critérios tangíveis, especialmente em indústrias onde uma parada não planejada custa milhões por hora.
Os três pilares da matriz GUT
O nome GUT é um acrônimo que representa os três critérios usados para classificar as tarefas, que são:
- Gravidade (G): qual a gravidade do problema ou da tarefa, ou seja, qual o impacto que ele pode gerar para o processo ou para a organização caso não seja resolvido?
- Não se trata apenas de “quanto dói agora”, mas do impacto estratégico.
- Exemplo prático: Um vazamento em um compressor pode parar uma linha inteira (G=5), enquanto um parafuso solto em uma esteira rolante (G=2) causa apenas um ruído incômodo.
- Urgência (U): qual o nível de urgência da tarefa? Em outras palavras, quanto tempo pode-se esperar para realizar a atividade sem que haja consequências negativas?
- Aqui, o tempo é inimigo. A pergunta-chave é: “Se adiarmos, qual será o custo?”
- Cenário real: Uma usina siderúrgica detectou um superaquecimento em um forno. Urgência 5: se não resolvido em 4 horas, o revestimento refratário se romperia, gerando 48 horas de paralisação.
- Tendência (T): qual a tendência do problema se ele não for tratado? A tendência de agravamento da situação com o tempo.
- É a bola de cristal da manutenção. Avalia se o problema vai piorar exponencialmente ou se manter estável.
- Dica de ouro: Use dados históricos. Se um rolamento apresentou aumento de vibração de 0.5 mm/s para 2 mm/s em uma semana (T=5), é sinal vermelho.
Aplicação da matriz GUT na manutenção
Nada melhor do que casos práticos para entender melhor como aplicar a matriz GUT. Separamos a seguir alguns casos que mostram como esta ferramenta pode ser usada na manutenção para melhorar os seus resultados, veja:
Case 1: a prensa hidráulica que quase parou uma montadora
Contexto: Em uma montadora, ruídos estridentes em uma prensa de chassis acionaram o alerta. A equipe usou a Matriz GUT para decidir:
- Gravidade 5: Paralisação total da linha (R$880 mil/hora perdidos).
- Urgência 5: O manual indicava risco de trinca na matriz em 3 horas.
- Tendência 4: Os ruídos dobravam a cada 30 minutos.
Ação: Parada emergencial, substituição de rolamentos em 2h40. Resultado: Economia de R$2.1 milhões em perdas evitadas.
Case 2: corrosão em torre eólica – quando a pressa é inimiga do planejamento
Contexto: Uma inspeção por drone em um parque eólico no Nordeste identificou corrosão em uma torre de 120m. A matriz revelou:
- Gravidade 4: Risco de colapso em 8 meses.
- Urgência 3: Ação necessária em 30 dias (evitando a época de ventos fortes).
- Tendência 5: A corrosão avançava 2% ao mês devido à maresia.
Ação: Agendamento de uma janela de manutenção com guindaste especializado, aproveitando para inspecionar outras 15 torres.
Lição: Nem tudo com alta pontuação exige ação imediata – o timing estratégico é crucial.
Passo a passo para aplicação da matriz GUT na manutenção
Para usar a Matriz GUT de forma eficaz, siga os seguintes passos:
1. Mapeie os “Inimigos” com uma Reunião que Vale a Pena
Antes de aplicar a Matriz GUT, é necessário listar todas as tarefas de manutenção que precisam ser realizadas. Estas podem incluir manutenções corretivas, preventivas ou preditivas, além de ajustes, reparos e substituições de peças. Convoque uma reunião com:
- Operadores: Eles sabem onde o equipamento “range os dentes”.
- Engenheiros: Traduzem sintomas em causas técnicas.
- Financeiro: Quantificam o custo-hora de paradas.
Exercício prático: Liste 10 problemas atuais e classifique-os coletivamente. Um vazamento de óleo pode ser G=3 para o operador (“só suja o chão”), mas G=5 para o financeiro (“multa ambiental de R$200 mil”).
2. Crie Sua Própria Escala – Flexibilidade é Chave
Uma vez identificadas as tarefas, cada uma deve ser avaliada com base nos três critérios da Matriz GUT. Cada critério deve ser pontuado em uma escala de 1 a 5, sendo que 1 representa uma baixa gravidade, urgência ou tendência, e 5 representa uma alta gravidade, urgência ou tendência.
Incorpore prazos específicos para tornar a análise mais precisa:
A tabela clássica de 1 a 5 pode não servir para todos. Adapte:
- Gravidade:
- 5 = Paralisação total + risco de segurança
- 3 = Redução de 30% na eficiência
- Urgência:
- 5 = Horas (ex.: vazamento de produto químico)
- 2 = Meses (ex.: desgaste gradual de correia)
Modelo visual: Use um semáforo (vermelho/amarelo/verde) em quadros de gestão à vista.
3. Integre Tecnologia – Mas não Terceirize o Julgamento
- Sensores IoT: Monitore tendências automaticamente (ex.: temperatura de motores).
- CMMS: Configure alertas quando o GUT Score ultrapassar 50.
- Armadilha a Evitar: Não confie cegamente em algoritmos. Um score alto gerado por um sensor defeituoso pode direcionar recursos para um problema fantasma.
4. Checklist para Colocar em Prática Hoje
- Treine a equipe com um caso real da sua planta.
- Defina limites financeiros para cada nível de Gravidade.
- Revise os scores a cada nova ocorrência – a matriz é dinâmica!
- Documente um “erro evitado” mensalmente – motiva a equipe.
Benefícios da Matriz GUT na manutenção
Já ficou claro que a matriz GUT pode trazer inúmeros benefícios principalmente para aquelas empresas que possuem muitos ativos críticos. Os principais benefícios da sua aplicação na manutenção são:
1. Priorização Eficiente: a Matriz GUT permite que os gestores de manutenção priorizem de forma clara e objetiva as atividades que têm maior impacto nos resultados da produção e na operação da empresa.
2. Redução de Riscos: ao priorizar corretamente tarefas críticas e urgentes, é possível reduzir o risco de falhas graves, acidentes e impactos negativos no processo produtivo.
3. Melhor Alocação de Recursos: com uma melhor definição das prioridades, os recursos, como mão de obra e materiais, podem ser alocados de forma mais eficaz, evitando desperdícios e otimizando os resultados.
4. Aumento da Eficiência Operacional: a organização das atividades de manutenção com base na Matriz GUT melhora a execução das tarefas, permitindo maior tempo de operação e minimizando o tempo de inatividade dos equipamentos.
5. Facilitando a Comunicação: a Matriz GUT oferece uma linguagem comum e um sistema de priorização visual, o que facilita a comunicação entre os membros da equipe de manutenção e os gestores, além de criar um entendimento claro sobre o que precisa ser feito primeiro.
Conclusão
A Matriz GUT não é uma varinha mágica, mas sim um sistema de navegação para ambientes caóticos. Ela força perguntas difíceis: “O que acontece se adiarmos?” ou “Estamos tratando sintomas ou causas?”. Em um mundo onde boa parte das falhas industriais são agravadas por má priorização, dominar essa ferramenta é deixar de ser refém das circunstâncias para se tornar arquiteto da confiabilidade.
Apesar dos desafios, a aplicação contínua da Matriz GUT pode melhorar significativamente a eficiência das equipes de manutenção, reduzir custos e aumentar a confiabilidade dos ativos.
E aí, este artigo foi útil para você? Então compartilhe com a sua equipe e não hesite em nos chamar para conhecer uma ferramenta de gestão da manutenção eficiente que levará a sua gestão a outro nível. Até a próxima!